O hálito da deusa

 

- Respiração - disse Brangwy para Agnes.

- Respiração? - Repetiu a menina, intrigada.

- É como você entra em sintonia com a deusa - explicou a vate. - O primeiro passo, é aprender a controlar a própria respiração, para permitir que Bríd se manifeste em você. Vamos fazer um teste prático? Não é difícil!

Para desapontamento de Agnes, a demonstração feita em seguida nada teve de esotérica; era apenas uma técnica de relaxamento: inspirar profundamente pelo nariz, expirar pela boca, de olhos fechados, e deixar a consciência do momento presente se esvair até que os pensamentos fossem silenciados. Ou o mais perto que se conseguisse chegar disso.

- Como se sente? - Indagou Brangwy em seguida.

- Descansada - admitiu Agnes, reabrindo os olhos.

- Isso é apenas a preparação - advertiu Brangwy. - Depois, vêm as aulas de prosódia, onde se aprende como pronunciar corretamente as palavras, e só então as combina com o seu domínio da respiração para lançar um encantamento ou fazer uma prece.

- E o que acontece se eu apenas ler o encantamento ou dizer a prece? - Questionou Agnes.

- Sem a técnica de respiração correta? Nada acontece - assegurou a vate. - É como tentar usar uma espada sem fio; talvez até consiga machucar alguém, mas não vai causar nenhum ferimento sério, muito menos matar.

- Compreendo - disse Agnes, um tanto decepcionada. Estava imaginando que se pudesse ler os livros da mãe adotiva, talvez pudesse começar a praticar alguns feitiços. Mas a estrada, pelo visto, era bastante longa...

- O que acha da perspectiva de se tornar aprendiz de Brangwy, filha? - Indagou Parnell, que acompanhava a conversa atentamente.

- Bem, mãe... eu gostaria de voltar e aprender mais um pouco. Da mesma forma que gostaria de voltar à casa de Gwaeddan... e da tia Grissell - admitiu Agnes.

- Agnes ainda não se decidiu - disse Brangwy. - Isso não é problema; sua filha é bastante jovem, tem muito tempo pela frente. Mas senti que tem potencial, será bem-vinda se quiser voltar.

- Fico grata - Agnes sentiu-se lisonjeada e tentada pelo convite, embora, de longe, o aprendizado com a vate aparentasse ser o mais difícil dos que vira até o momento. Mas, ainda faltava uma última dádiva da deusa para explorar: a da cura. Agnes perguntou-se que tipo de sacrifício teria que fazer, caso optasse seguir por esse caminho.

Era algo que precisava descobrir.

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